domingo, 6 de maio de 2012

Um veneno chamado inveja

 "Um coração tranquilo é a vida do corpo, enquanto a inveja é a cárie dos ossos" (Pr 14, 30)

A inveja se apresenta como uma tristeza em virtude de um dom, bem ou ganho alheio. O despeito causado pela inveja é acompanhado de uma constrição do coração, que diminui a sua atividade e produz angústia, por vezes conduzindo o indivíduo ao estatismo. O invejoso encara o bem alheio como um golpe atroz à sua suposta superioridade. A inveja aparece umbilicalmente unida à soberba, que é uma acentuada necessidade de promover a própria excelência. Associada à inveja, a soberba dá origem a uma intolerância frente ao crescimento de outrem. O coração que inveja deixa de gozar da paz alciônica e passa a viver um drama deveras muito sofrido e que, sem verdadeira combatividade, não se cura facilmente.

O invejoso por vezes sofre de modo enormemente maior com o sucesso alheio do que com as suas próprias perdas ou insucesso - o que é absurdo. À medida que a inveja cresce e espalha seus enganos no coração humano, surgem as maiores e mais patéticas manifestações prejudiciais de sua perspicaz e malévola evolução. Por vezes se vê que o ínvido manifesta dos modos mais patéticos sua tristeza pelo ganho alheio. Há pessoas que se tornam verdadeiros patrulheiros da vida alheia, a fim de descobrir no que o aumento da potencialidade de ser e agir do outro, diminuiria ou tolheria o seu poder de ser e agir. Como se o mundo não pudesse acolher os dons e talentos lícitos que Deus mesmo concede em abundância e segundo a sua vontade!

Ódio, intriga, murmuração, calúnia, difamação e alegria frente às desgraças do outro se fazem como que os principais frutos maus que nascem do arvorar da inveja. A inveja é dita como causa de morte (Sb 2, 24) e de fato parece ter razão tal classificação, se podemos considerar conceitos como grau em relação à inveja, vemos que seu futuro mais maduro é a morte - ao menos espiritual - do que evolui na inveja. Haveria, pois, um primeiro grau de inveja que seria em relação aos bens materiais ou relativos ao ser visível do outro: beleza, força, poder, prestígio, riqueza. Existiria também um segundo grau, que diz respeito aos bens dons e graças dadas por Deus a alguém, o que se mostra como um pecado mais que grave nomeado pela Doutrina Católica como inveja da Graça fraterna.

Precisamos aprender a nos alegrar com o sucesso, bens e graças alheios. Quem procura viver na sobriedade de seus afetos, logo percebe o sossego que passa a ser nota dominante em seu ser, e a consequente paz que domina quem se equilibra em busca do domínio de si. Deus nos criou dotados de inteligência, vontade e sensibilidade, mas estabeleceu uma hierarquia entre esses atributos de nossa natureza: a inteligência domina a vontade, e a vontade domina a sensibilidade. Obviamente há que se empregar muita disciplina e exercício de persistência para que cheguemos a pulsar na cadência de nossa natureza, como fora criada por Deus. O pecado nos desajusta, mas há remédio para ele: Jesus Cristo.

Encerro este texto com o belíssimo elogio de São Paulo à caridade, e creio que a caridade é o remédio para aqueles que são afligidos pela inveja ou que conhecem pessoas necessitadas de ser tratadas desse vicioso mal que parece assolar o mundo hodierno.

Diz o Apóstolo: “A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Cor 13, 4-7).

Deus abençoe a cada um de nós, e Maria Santíssima, agraciada por excelência, ajude-nos a viver e conviver na concórdia e na caridade. Nossa Senhora, Medianeira de todas as Graças, rogai por nós!